quarta-feira, 6 de julho de 2011

As Misérias do Processo Penal: Preocupe-se apenas com a sua vida!


Terminei o livro As Misérias do Processo Penal de Francesco Carnelutti. Um bom livro, diga-se. Abordando o processo penal, sua importância para a civilização, tal como suas dificuldades, curiosidades e, principalmente, suas imperfeições.

Mas, o interessante de tudo é que o livro mostra um pouco da rotina das pessoas, que mesmo nos dias de hoje, se mostra ainda mais forte do que na época em que o autor escreveu esta bela obra. Apesar de voltado ao tema, vou destacar que o trecho abaixo reflete muito mais que os casos penais:


(...) “Um pouco em todos os tempos, porém na época atual cada vez mais, interessa o processo penal à opinião pública. Os jornais ocupam uma boa parte de suas páginas com a crônica dos delitos e dos processos. Quem os lê tem consigo a impressão de que neste mundo se produzem muito mais delitos do que boas ações. O que ocorre é que os delitos assemelham-se às papoulas, que quando há uma em um campo, todos se dão conta dela; e as boas ações se ocultam, como as violetas entre as ervas do prado. Se os jornais se ocupam com tanta assiduidade  dos delitos e dos processos penais, é porque a gente se interessa muito por eles; sobre os processos penais chamados célebres, lança-se avidamente a curiosidade do público. E é também esta uma forma de diversão; evade-se da própria vida ocupando-se da vida das demais pessoas; e a preocupação não é nunca tão intensa como quando a vida dos outros assume o aspecto de drama (...)

(...) a respeito dos protagonistas do drama penal é a mesma que tinha há um tempo a multidão diante dos gladiadores que combatiam no circo (...)

À primeira vista não há como perceber semelhança, mas essa rotina existe não apenas nos casos penais, algumas pessoas perdem o tempo de sua vida atento ao próximo, ou ao desconhecido. Pois a sua própria vida monótona não lhe proporciona a ocupação devida para deixar de cuidar ou analisar a vida dos outros. Essa conduta, às vezes, é praticada com orgulho, coisa de bater no peito inflado e declarar-se bom, tudo por estar ávido aos atos e pensamentos de outrem.  Alguns são hipócritas ao ponto de dizer que não o fazem; mas todos fazemos, alguns mais outros menos.

Só não concordo em ver que tem alguém pensando que sabe tudo, quando na verdade não sabe nada, não consegue nada, não acerta em nada. Todos somos imperfeitos, não tem porque alguém ficar tentando uma análise minuciosa e apontando as imperfeições dos outros. A lei é cada um no seu quadrado, cada um com sua vida, cada um com suas preocupações. Não há porque você se preocupar com o que o outro pensa, ou tentar, de maneira indireta, cutucar o outro. É o cúmulo do contraditório, estará atestando que sua vida é sem sal, improdutiva, infeliz... 


É pura perda de tempo e o tempo, nos dias de hoje, é precioso...

5 comentários:

Júnior Shin. disse...

Achei interessante o último parágrafo.

Marcos Paulo disse...

Infelizmente temos que aguentar certas coisas a seco, às vezes não é possível e acabamos estrapolando, mas acho que depois que mostramos nossa insatisfação às claras, as coisas tendem a melhorar como já estão. Não concorda? =D

Marcos Paulo disse...

Acho que evita um pouco, a forma como agimos recentemente mostrou que evita até um certo ponto. O importante é falarmos que não gostamos disso e deixar claro. Pode ter resultados. Pode não ser o que esperamos, mas não teremos tantas dores de cabeça...

Júnior Shin. disse...

Às vezes as pessoas atrapalham sem sequer atrapalhar, Izabel...

Na cabeça de muitas pessoas, às vezes algumas atrapalham, lavagem de roupa é um lance bem fundamental, muito bem colocado... Mas o que falta mesmo hoje em dia nas pessoas, em muitas pessoas, Izabel, é bom senso...

De todo o texto, curti mesmo último parágrafo. Ele concorda e discorda ao mesmo tempo do penúltimo, pois é uma ação com dupla-característica onde um relato 'crítico' é, ao mesmo tempo, efetivado...


Mas tipo, isso é no meu modo de interpretação, o que não quer dizer, é claro, que seja o que foi redigido aí. ^^

E, na verdade, só comento quando realmente acho interessante... Como o Marcos disse no comentario anterior às claras. (:

Marcos Paulo disse...

Justamente por isso separei em dois parágrafos, o penúltimo fazendo uma analogia com o que consta no livro e o último – após um caso concreto e constatado –, discordando e, ao mesmo tempo, fazendo esse julgamento de conduta a qual eu rejeitei, no entanto, com o embasamento da declaração de culpa da própria pessoa de que o fazia em certa ocasião. O que eu rejeitei foi o julgar sem saber. Neste caso eu to julgando e condenando o ato da pessoa, justamente como falei: ninguém está livre desse ato, todos fazemos, uns mais, outros menos; mas faço isso depois de ter conversado com a pessoa e a própria pessoa ter admitido que estava se metendo sem saber, fazendo julgamentos equivocados, se preocupando demais com a vida alheia e etc...

Por isso tu tem razão mesmo, é um relato crítico e, ao mesmo tempo, efetivado.

O bom foi que depois de explanar tudo isso a pessoa está evitando ao máximo cometer esse tipo de erro, até porque nos conhecemos a pouco tempo.

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