quinta-feira, 21 de julho de 2011

As “Entrelinhas” da Linguagem.


A linguagem tem sido uma constante preocupação humana. Desde os mais remotos tempos vêm-se as pessoas voltadas para questões da linguagem. Foi assim na Grécia antiga quando os pensadores já se deixavam seduzir por questionamentos como: as palavras imitam as coisas? Como se dá os nomes às coisas?  Qual o poder das palavras na vida das pessoas? Qual a função política da linguagem?

No mundo atual, também, essas preocupações habitam a alma das pessoas. Entende-se que as palavras se transformam conforme mudam as necessidades humanas. As sociedades evoluem, surgem novas necessidades e criam-se novas palavras para expressá-las. Muitas vezes perdem seu sentido original e ganham novas significações.

Contudo, numa ou n’outra direção, nada mais perigoso do ponto de vista político do que o uso das palavras.  Assim os sofistas, na Antiguidade, ao perceberem a importância da linguagem, especializaram-se na retórica. Por isso mesmo, naqueles tempos, quando a persuasão constituía uma força pública, impunha-se a eloquência. Hoje, pouco ou quase nada serve a eloquência quando a força pública substitui a persuasão. Contam que Heródoto lia sua história aos povos da Grécia, reunidos ao ar livre, e tudo ressoava com aplausos. Hoje o aluno que, num dia de assembléia pública, lê uma memória, é ouvido com dificuldade no fundo da sala, porquanto tantos conversam.

Também não é por acaso que, em geral, políticos e burocratas autoritários tendem a metamorfosear as palavras, mascarando-as ou destituindo-as do seu significado real. Com isso, boa parte dos mal-entendidos e, inclusive, dos problemas de compreensão da realidade brasileira se devem às armadilhas das palavras. E como toda armadilha, ela não é casual, porém obedece a uma intenção e planos determinados, como mostram os exemplos:

ACORDOS POLÍTICOS – conchavo feitos às portas fechadas (o povo é excluído, portanto levam mais em consideração os interesses das partes do que os da população). 

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO - perspectiva de melhora do padrão de vida pessoal: tenho mais do que tinha, portanto terei mais amanhã do que tenho hoje. 

DIREITA - qualificação de quem é direito. Portanto, algo positivo. O contrário de esquerda.

ESQUERDA - associação indesejável porque é o oposto de direita. 

GASTOS EXCESSIVOS DO GOVERNO - decorrem da dívida externa, da corrupção, dos marajás e das mordomias. Fazem com que não sobre dinheiro para os serviços públicos essenciais (educação, saúde, habitação, transporte, segurança).

GOVERNO - associado à ideia de corrupção, mordomias, marajás. Precisa, então, pelo menos, ser realizador = fazer muitas obras e criar empregos. As classes de baixa renda (que afinal decidem eleições) estão, no fundo, pouco ligadas a questões ideológicas e/ou éticas, desde que vejam muitas obras que facilitem sua vida, e tenham comida e trabalho para a família, além de facilidades de deslocamento = transporte e moradia perto do trabalho.

OPERÁRIO - é o outro trabalhador, "igual à gente". De um lado é o companheiro de trabalho, mas também é quem compete pelo mesmo emprego e promoção. Se puder, pisa em cima e, se conseguir, "rouba até o meu sapato". 

PARTIDO POLÍTICO - um conjunto fechado de pessoas que se dedicam à atividade política. É o partido que estabelece os compromissos que amarram os candidatos e impedem que estes, quando eleitos, nomeiem as pessoas mais capazes.

NEOLIBERALISMO - palavra que nada significa, sendo utilizada para criar um inimigo imaginário. Diz-se também dos que a utilizam “pobres de espírito”.

Perceba que por trás dessa brincadeira há uma mensagem vigorosa, profunda, de que as palavras regem a ordem do mundo e podem mudar os rumos da realidade. O que seria do ser humano sem as palavras? Toda nossa história, racionalidade e arte são fundadas por palavras. Logo, saber as origens das palavras, estudar as suas metamorfoses e seus usos, conforme os interesses, por todas as épocas, é essencial para a luta permanente contra o esquecimento. Um povo que não conhece o seu passado, ou o conhece sob a ótica dos que dominam, é incapaz de mudar o presente e construir o seu futuro.

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